Daniel Clowes construiu sua carreira criando personagens desagradáveis. Com Wilson no entanto, ele criou o personagem mais egoísta, mimado, idiota e teimoso de todos. Praticamente sem recursos para salvar seu caráter absolutamente desprezível, Wilson é definitivamente uma leitura desconfortável.
Tal como já aconteceu em outras obras do autor, Clowes utiliza um formato profundamente tradicional quadrinhos para mostrar seu trabalho: cada página é um tira independente com seu próprio título, um pouco como os quadrinhos de página inteira que se pode as vezes encontrar em um jornal de domingo. Todo o livro ainda tem um enredo e um arco de história passando por ele, mas essas páginas individuais são como momentos da psique de Wilson. Às vezes, se movem a trama, mas muitas apenas colocam Wilson em situações embaraçosas com as outras pessoas, deixando-o desabafar sua cólera sobre o que se percebe ser sua estupidez ou grosseria. Mais comumente, é claro, pode-se ver Wilson esbanjando grosseria e mau-humor que traz à tona o pior naqueles em torno dele.
O estilo de arte é diferente de página para página, num estilo cartunesco em algumas páginas e mais realista em outras. O estilo de Clowes não parece tão impressionante aqui, embora haja variações sutis em todos estes temas artísticos, não se pode vislumbrar algo mais profundo, imaginando se alguns jovens artistas que se inspiraram em Clowes já não ultrapassaram o mestre.
Talvez a maior barreira para se apreciar o livro seja a falta de um sentido tradicional e a falência moral do personagem título. Wilson não consegue conquiatar qualquer empatia do leitor, deixando o resultado final um pouco oco, e a experiência, vazia. A única atração em se assistir as desventuras deste acidente humano e de como ele atravessa a vida, amarga e problemática, é um certo prazer culpado – pode-se ter algum orgulho no fato de que não importa quão grande idiota se é, Wilson é provavelmente pior.
O fãs de Daniel Clowes, sem dúvida, devem apaludir a obra, embora talvez não tão entusiasticamente como quando viram as prévias da obra. Isto porque, embora seja um ser disfuncional, este protagonista não cativa pelas esquisitices. Wilson é um sujeito normal em situações bastante normais. Muito do charme anterior dos trabalhos de Clowes vinham da msitura entre o profundamente estranho com o fantasticamente disfuncional, mas não há nada disso aqui. Wilson pode ter uma personalidade comicamente exagerada, mas muitos de nós conhecemos pessoas que não são assim tão diferentes dele.
Ainda assim continua a ser um prazer ver este mestre dos quadrinhos independentes em ação, e sua caracterização é simplesmente fenomenal – há poucos lugares nos quadrinhos, onde se verá um personagem fictício, bem clarificado, como este. Mas sua história melancólica, mesmo bem executada e curiosamente retratada, não acrescentará muito para quem procura um conto otimista e redentor. Wilson está preso longe demais em seu mal-humor, egoismo, em sua crise de meia-idade para oferecer um entretenimento agradável, mas fornece uma boa leitura que não vai necessariamente trazer um sorriso ao rosto.
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